domingo, 15 de março de 2015

Estilo alternativo masculino e preconceito

Você conhece algum rapaz com estilo alternativo?

Quando pesquiso sobre góticos para o blog, chovem fotos de meninas e mulheres. Quando pesquiso sobre estilo retrô, também. Aparecem fotos de homens, mas são poucos. Vejo muito mais fotos de homens em estilos punk, metal e grunge. Mas à exceção de metaleiros, que sempre encontro, não vejo muitos homens alternativos em outros estilos.

   
Preppy style, que ganhou força depois de aparecer em seriados americanos, e street style livre.

Eu encontrava muitos punks quando era adolescente. No centro da cidade sempre encontrava vários vendendo fanzines de protesto, contando sobre a dominação capitalista, modos de vida alternativos, divulgando novas bandas. Sempre curtia bater papo com os caras, e dificilmente via mulheres junto. Por que? Não sei. Isso foi mudando mas ainda não vejo muitas. Como também não vi mais tantos punks como via.

  
Estilos de cabelos coloridos: cor de rosa e roxo neon.


A medida que o tempo passava, via um ou outro homem em estilo alternativo. Noventa por cento das vezes eram metaleiros. Alguns meninos com cabelo colorido estilo moicano. 

  
Estilo funk tradicional (às vezes denominado new soul) e Disco Stu, personagem dos Simpsons sempre debochado por manter o estilo disco.


Grunge passou a ser norma entre os rapazes, ao ponto de ser sempre visto. E poucas vezes vi serem xingados ou mal tratados.


   
Street style com uso de saia, e Marc Jacobs, estilista que propos um novo uso, junto com Jean Paul Gaultier.


Estilos alternativos para homens são mais aceitos? Ou só alguns estilos?



  
Gangster style, inspirado nos anos 40 e 50. Psy, em performance de Gangnam Style, usando inspirações do estilo.


Quando um homem usa saia, o xingam de baitola.
Quando um homem usa suspensórios e gravata borboleta, o chamam de antiquado.
Quando um homem usa uma barba ou dreadlocks enormes, o chamam de mendigo.


Dreadlocks e terno; cabelo com tranças e trançado rente a cabeça num look de inspiração vintage.


Será que homens de certos estilos alternativos são raros porque não são aceitos? Ou por que é mais difícil manter o estilo, tem menos opções? Tem diferença de tratamento por ser homem? Ou é ao contrário, se espera que tenham um estilo mais alternativo? 

Pedi a um amigo, Rodrigo Manhães, do RJ, que falasse a respeito. Acompanhem:

1.    Fale um pouco de você. Onde mora, no que trabalha, alguns de seus gostos pessoais, do que não gosta...
Sou ilustrador, animador e desenhista industrial. Na minha área profissional é um pouco raro ser diferente ou pertencer a alguma subcultura, já que é preciso estar antenado e sempre dentro da moda mais recente. Os clientes sempre exigem este tipo de coisa. Ultimamente fundei minha própria empresa, a Excelsior Graphico, e tenho me dedicado a meus projetos pessoais (pode se dizer que são vintage). Sou do Rio de Janeiro, um lugar turístico, de praia, onde as pessoas gostam de se intitular despojadas. Eu sou bem o oposto, gosto da elegância. Minha época ideal foram os anos 40/50, mas não digo que gosto daquela visão enlatada de que as moças são pin ups e os rapazes são rockers. Gosto de roupas sociais, trajes passeio, tecidos finos e roupas de gala. Me visto como um velho e as pessoas dizem que eu aparento possuir muito mais de 28 anos. Meu estilo de musica e o jazz, já cantei em uma banda e coleciono discos. Gosto muito de Bossa Nova também. Gosto tanto de coisa velha, que tenho planos de fazer o mestrado para dar aulas de Historia da Arte, algo que eu amo. Costumo dizer que sou um homem moderno em um mundo contemporâneo.

2.    Como você começou a adotar seu estilo?
Quando era criança, era apaixonado por desenhos animados, principalmente os dos anos 40/50 como Tom and Jerry, Looney Tunes e Mickey Mouse. Dizia que um dia trabalharia na Walt Disney Animation Studios. Alem de gostar do traço, adorava aquela trilha sonora orquestrada, principalmente a de Tom and Jerry, feita por Scott Bradley, que tinha aquela pitada de big band. Depois, na adolescência, larguei um pouco meu gosto pelos anos 40 para fingir gostar de Heavy Metal. Era apenas para me enturmar com os outros da minha idade. Quando passei dessa fase, voltei a ser eu mesmo e com força total.

3.    Quais são suas inspirações?
Quando tinha uns 20 e poucos anos comecei a me interessar por filmes de gangsters e detetive, os conhecidos film noir, com Humphrey Bogart, James Cagney e Edward G. Robinson. Queria ser um daqueles caras durões, que eram largados, mas tinham bastante charme e elegância. Pesquisei muito sobre o período moderno, do Séc. XIX até meados do Séc. XX, dentre a arquitetura, artes plasticas, música, tecnologia, design, moda e estilo de vida. Tudo isso me inspira pessoalmente e profissionalmente. 

 
Fotos de arquivo pessoal

4.    Quais foram os maiores desafios no seu estilo?
O clima, principalmente (risos). Na faculdade eu gostava de me vestir assim, social ou passeio, parecendo ter voltado do trabalho. Quem mais me provocava eram os professores. Gosto de pensar que eu me vestia melhor que eles e isso gerava um certo recalque. Os colegas achavam apenas que eu era doido. Uma vez fui arrastado para uma festa gótica, eu usava um blazer branco, tinha acabado de sair de uma festa de aniversario na praia. No dia seguinte fiquei famoso na faculdade pelo apelido de Dorival Caymi, e não era por menos, com a luz negra eu parecia o espirito do compositor que acabara de morrer.

5.    Você já sentiu diferença de tratamento ao se vestir de forma diferenciada? Ou foi mal tratado por alguém por causa disso? 
Bem, pessoas de idade geralmente costumam apreciar. Já os da minha idade ou até de cinquenta anos, a princípio, me julgam muito formal. Viajando para fora do pais recebi muitos elogios. Aqui no Brasil as pessoas gostam de abrir a boca apenas para falar mal ou para me dar dicas de como eu deveria me vestir 'normalmente'. 


Foto de arquivo pessoal

6.    Acha que o estilo alternativo vintage que você escolheu sofre mais observações e críticas que outros estilos alternativos masculinos, como o gótico?
Hoje em dia acho que é possível que as pessoas se choquem mais com o formal do que com as outras sub-culturas. Não acredito fazer parte de nenhum grupo, às vezes tenho a sorte de conhecer pessoas que possuem o gosto parecido com o meu, mas é bem raro. Não sou um rockabilly, nem um teddy boy ou qualquer coisa dessas. Como é um estilo não classificado, acredito que as pessoas reagem com estranheza sim, ainda mais por eu ser homem. As pessoas não aceitam muito bem o que elas não conhecem, e dai vem as piadas, a grosseria. Tudo isso produto da ignorância.

7.    Alguma dica para quem está começando a montar o próprio estilo?
Não entre em um estilo por modismo, seja original. Um historiador da arte me disse uma vez: “Um exemplo de mal gosto é uma coisa que finge ser o que não é. Se você não pode ter um Iphone, não compre a falsificação dele.” Se você não se identifica completamente, não seja, vai parecer falso, caricato. Se você gosta, não seja superficial, pesquise a fundo. No caso do vintage, pesquise a época, o estilo de vida, não se mire somente em ícones. Imagine como se no futuro pensarem que todos em 2015 se vestiam como a Lady Gaga (risos).

Adorei conhecer alguém com tanta personalidade e defesa do próprio estilo. Apenas me chateio de ver que ainda temos tanta rejeição, até mesmo de educadores, que deveriam ser os primeiros a elogiar e incentivar aceitação!
E você? Conhece algum rapaz que já passou por problemas devido ao estilo? Comente!



Carpe diem, carpe noctem, finis est initium.

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