sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Preconceito no mundo alternativo - de dentro para fora (2)

Olá!

Este post é uma continuação deste post. Ele veio de muita observação, mas também da valiosa contribuição da Rubia, da Sana e da Leane, que com seus comentários me deram muuuuuiiiiiiiiii(uff uff)iiiiiita coisa a ler, ponderar e pesquisar. Obrigada meninas!

No post anterior, comentei sobre como era estranho a cena alternativa ter preconceito dentro dela mesma. Eu cresci numa era que estava de "ressaca": os anos 70 eram dos meus pais, os anos 80 para nós eram a Xuxa, a Angélica e o Sérgio Malandro. Rock era o Supla cantando "Pisa em mim" e ouvir A-HA. A música, a cultura, os excessos dos anos 80 eram para nossos tios, ou irmãos mais velhos, e quando chegamos na adolescência o mundo estava saturado, ansiando respirar, perdendo ídolos para estes excessos. O rock ganhou peso, os clips ganharam a MTV. Transgredir era a norma.

Na minha adolescência, lembro muito bem como era ser de um grupo: havia código de vestimenta, de conduta e pensamento. Para meninos e meninas recém saídos da infância, eram um porto seguro. E nos segurávamos no grupo porque sem ele não tínhamos referência, acabávamos sozinhos. Só que esta dependência criava uma exclusão também. Vi muitas pessoas ficarem sozinhas por simpatizarem com o grupo, mas como não seguiam tudo a risca, não eram aceitas 100%.

Isso foi acontecendo perto de mim até meados de 1997, 1998. Não sei bem dizer o que fez estes anos ficarem marcados na minha cabeça. "Meus heróis morreram de overdose", outros ídolos tinham vindo, a cultura dos grupos mudou, a Internet popularizou. O que era de difícil acesso, só por livros, fita cassete ou no boca a boca, agora estava indo para a net. Começamos a conhecer outras pessoas que também gostavam do que gostávamos, mas eram diferentes de nós. Isso abriu horizontes, e jogou muito preconceito na lama.

Os anos passaram, eu mantive contato com aqueles "de sempre", os mesmos amigos da cena, e da não cena. E quando voltei a ir atrás do que estava acontecendo, comecei a pesquisar, me surpreendi. De um lado, o sonho de várias tribos em uma turma, todo mundo se comunicando e se respeitando. De outro, segregação e preconceito mantidos contra outras tribos. 

Ou seja, mudou muita coisa, mas não foi em todo lugar.

Lendo sobre subculturas e moda alternativa (Diva Alternativa também como blog de cabeceira), percebi que minhas concepções eram muito frágeis, mas eram coesas. Eu estava usando minha própria experiência, mas errei ao ampliar ao mundo todo. Eu fui aceita em quase todas as cenas alternativas que me misturei: tentei ser hippie, clubber (e ao mesmo tempo, imagine a bagunça!), rocker, metaleira, grunge, até uma fase punk pesado. Me identificava com coisas de cada uma destas tribos, mas nem todas. Se por vezes parecia leviana, ao não me manter em uma tribo só, por outro lado penso na maravilha de conhecer todos os lados, ver de dentro para fora um pouquinho de cada tribo. E ter sido aceita. Acredito que nem todo mundo deve ter sido aceito deste jeito.

Engraçado como a concepção de alternativo mudou, e eu fiquei para trás em algumas coisas. Para mim, alternativo é se contrapor a uma imposição que se baseia em uma regra, que se choque com que você acredita. Quem é vegetariano para mim é alternativo, quando faz isso por ideologia. Quando pára de comer proteína animal para emagrecer, eu já tenho problemas em dizer que é alternativo. Na minha geração 80-90, ideologia era algo vital na cena. Pelo menos nos grupos que andei.

Se ser alternativo é vestir-se, pensar, agir contra as imposições que se chocam com sua ideologia, é óbvio que vai ter pessoas que vão adotar uma vestimenta alternativa, mas não são alternativos - fazem isso por diversão, por que não? Errei ao pensar, por exemplo, que toda lolita segue código de conduta "lolita lifestyle". Embora minhas pesquisas (12, 3, 4, 5 e muitas outras) mostraram defensoras ardentes deste código, também mostraram que não é um consenso na cena lolita. Como também não há no grunge, no metal, no punk...

Hoje em dia, muita coisa que era característico de um grupo de subcultura não é mais. Sidecut era algo que vi em punks e na Cindy Lauper, hoje vejo em muitos lugares. Cabelo colorido fantasia era coisa de louco; hoje temos aos montes. Eu tive que fazer uma limpeza de HD mental para perceber isso, tamanho o isolamento que mantive da cena por um longo período. E se o mainstream pegou para si, é algo que me faz ver também que erro muitos vezes ao ver uma pessoa alternativa e ela ser alternativa de fato. O que era alternativo ontem não é sempre alternativo hoje.

Pensamentos de uma pessoa que nasceu em outra era e pensou que coisas tinham mudado. Mudaram, mas não tudo hehehe

Falando de cabelo colorido, me veio uma história característica. Eu sempre estou de olho na rua procurando por pessoas para fotografar - afinal, na internet já tem, mas quero gente de carne e osso. Mas muitos poucos eu consigo fotografar, porque não tiro foto sem pedir autorização (ué, tem gente que não curte, eu vou respeitar). E aí perco a chance de fotografar alguém com um visual que me instiga, mas fazer o que? 

Enfim...dias atrás vi uma senhora idosa com o cabelo todo branco na parte de cima, e todo roxo (roxo mesmo!) na parte de baixo. Achei fantástico, e comentei com quem estava comigo. A pessoa respondeu "todo mundo que é alternativo hoje tem que ter cabelo colorido".

Ai os rótulos...Tem que ter...eu fico parada, inerte em ações, mas fervendo por dentro, frente a um rótulo destes. Pelas minhas pesquisas, o "tem que ter" está em todas as áreas: lolitas tem que ter roupas caras e acessórios de certas marcas, punks tem que participar de briga, metaleiro tem que ter cabelo comprido, grunge tem que ter uma banda...

Vem cá, quem disse? Eu adoraria pintar o cabelo de umas cores loucas, mas tenho alergia. E isso me faz menos alternativa?

Conheço metaleiro de cabelo curto.
Conheço lolita que não tem grana e se vira, vai em brechó e improvisa.
Conheço punk que conversa de igual para igual com hippies.
Conheço grunge que não bebe, não fuma e não tem banda.

Isso me parece, sinceramente, uma falta de auto estima. E de minha parte mesmo. Parece uma aversão, que ver estes rótulos é quase uma ameaça ao meu jeito de pensar e ser, como se fossem direcionados a mim.

Se me sinto agredida por estas concepções, em parte pode ser que elas estejam erradas? Pode. Pode ser que seja um erro meu, que me importo demais, que visto uma carapuça que eu mesma estou costurando? Pode também.

No fundo, ser alternativo, vestir-se alternativo, pensar alternativo é algo tão amplo, que eu mesma acabei rotulando...


Carpe diem, carpe noctem, finis est initium.

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